2008/03/23

O nosso problema é que não temos problemas....!!!

(Entrevista de Tulku Lama Lobsang a Gaspar Hernandez, em 2/01/08, publicada no El Periódico, da Catalunha)

*Tulku Lama Lobsang é um médico tibetano que viaja pelo mundo ensinando medicina, psicologia e astrologia e fazendo curas com as mãos e com os olhos.


- Quando um paciente vem a uma consulta, como descobre qual é a sua doença?
- Vendo como se move, a sua postura, a forma de olhar. Não é preciso que me explique o que se passa. Um médico de medicina tibetana com experiência sabe, logo que o doente se aproxima de cerca de 10 metros, de que doença sofre.
- Mas também mede a pulsação?
- Assim obtenho a informação que necessito sobre a saúde do doente. Com a leitura do ritmo dos pulsos consegue-se diagnosticar cerca de 95% das doenças, incluindo psicológicas. A informação que se obtem é tão rigorosa como a de um computador. Mas lê-la requer muita experiência.
- E depois como os trata?
- Com as mãos, com o olhar e com produtos à base de plantas e minerais.
- Segundo a medicina tibetana qual é a origem das doenças?
- A nossa ignorância.
- Perdoe a minha, mas o que entende por ignorância?
- Não saber que não sabes. Não ver claramente. Quando vês com clareza, não tens de pensar. Quando não vês com clareza, pões em funcionamento o pensamento. E quando mais pensamos, mais ignorantes somos e maior confusão criamos.
- Como podemos ser menos ignorantes?
- Dou-te um método muito simples: praticando a compaixão. É a forma mais fácil de reduzires os teus pensamentos. E o amor. Se gostas verdadeiramente de uma pessoa, quer dizer, se não a queres só para ti, aumenta a tua compaixão.
- Que problemas vê no Ocidente?
- O medo. O medo é o assassino do coração humano.
- Porquê?
- Porque com o medo é impossível ser feliz e fazer felizes os outros.
- Como se enfrenta o medo?
- Com a aceitação. O medo é a resistência ao desconhecido.
- E como médico, em que parte do corpo vê mais problemas?
- Na coluna, na parte inferior da coluna: sentai-vos demasiado tempo na mesma posição. Tendes demasiada rigidez.
- Temos muitos problemas?
- Julgamos que temos muitos problemas, mas na realidade o nosso problema é que não os temos.
- Que quer dizer?
- Que nos acostumámos a ter as necessidades básicas resolvidas. De tal forma que qualquer pequena contrariedade nos parece um problema. Então, ligamos a mente e começamos a dar volta e mais voltas sem encontrar solução.
- Tem alguma recomendação?
- Se o problema tem solução, já não é um problema. Se não tem, também não.
- E para o stress?
- Para o evitar o melhor é estar louco.
- Louco?
- É uma brincadeira, mas não tanto. Refiro-me a ser ou parecer normal por fora e, por dentro, estar louco. É a melhor forma de viver.
- Que relação tem com sua mente?
- Sou uma pessoa normal, ou seja penso frequentemente. Mas tenho a mente treinada. Isso quer dizer que não sigo os meus pensamentos. Eles aparecem, mas não afectam nem a minha mente nem o meu coração.
- Ri-se frequentemente.
- Quando alguém ri, abre-se-nos o coração. Se não abres o teu coração. É impossível ter sentido de humor. Quando rimos tudo se torna claro. É a linguagem mais poderosa, liga-nos uns aos outros directamente.
- Acaba de editar um CD de mantras com uma base electrónica para o público ocidental.
- A música, os mantras e a energia do corpo são o mesmo. Tal como o riso, a música é um grande canal para nos ligarmos com os outros. Através dela podemos abrir-nos e transformarmo-nos. É assim na nossa tradição.
- Qual é a coisa de que mais gostaria?
- Gostava de estar preparado para a morte.
- Nada mais?
- O resto não importa. A morte é o mais importante da vida. Creio que já estou preparado. Mas antes da morte devemos ocuparmo-nos da vida. Cada momento é único. Se dermos sentido à vida, chegaremos à morte com paz interior.
- Nós vivemos de costas viradas para a morte.
- Mantendes a morte em segredo, até que chega um dia da vossa vida em que já não será um segredo: não vos podereis esconder.
- E a vida que sentido tem?
- A vida tem sentido e não tem. Depende de quem sejas. Se realmente vives a tua vida, tem sentido. Todos temos vida, mas nem todas as pessoas a vivem. Todos temos direito a ser felizes, mas temos de exercer esse direito. Se não, a vida não faz sentido.